viernes, 15 de julio de 2011

Angra 3 é muito cara, diz especialista em energia



A usina nuclear Angra 3, em construção pelo governo federal, é cara demais. Essa é a análise de Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia), da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e um dos maiores especialistas em energia do país.

Ele foi convidado pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) para falar sobre o projeto da hidrelétrica de Belo Monte no último dia da reunião anual da instituição, em Goiânia. Mas aproveitou a oportunidade para criticar Angra 3 e pedir mais investimentos em energias "alternativas".

"O governo já gastou US$ 700 milhões desde a ditadura militar com Angra 3. O custo para terminá-la é de US$ 6 bilhões. Angra 3 é cara demais", diz.

CUSTO-BENEFÍCIO

Rosa fez uma comparação de Angra 3 com o custo para tirar do papel a "polêmica" hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA).

Apesar de ser mais cara -- está orçada em pelo menos US$ 12 bilhões --, o potencial de geração de energia de Belo Monte é maior. Na ponta do lápis, Angra 3 é cinco vezes mais cara: "O custo de Belo Monte é de US$ 1.000 por kw instalado. Já em Angra 3 são US$ 5.000 por kw", diz Rosa.

Para Rosa, o governo não deveria construir as outras usinas nucleares em Angra. "Acho que está voltando atrás, inclusive por causa do acidente em Fukushima [no Japão, em março deste ano]."

O especialista destacou ainda que sente falta de um posicionamento da sociedade sobre energia nuclear no Brasil. "Não há uma mobilização tão grande contra Angra 3 como existe contra Belo Monte."

Belo Monte tem recebido críticas duras de ambientalistas, preocupados com a área de alagamento da usina: cerca de 500 km em uma região de floresta amazônica.

ENERGIA ALTERNATIVA

Rosa aproveitou para defender o investimento em "energias alternativas", como a biomassa. Ele destacou o desperdício com o bagaço e com as folhagens de cana, que são queimadas e poderiam ser usadas como fonte de energia.

"A queima das folhagens gera emprego. Mas é um emprego péssimo. O Brasil tem que superar essa capacidade de gerar empregos péssimos", diz.

O especialista disse ainda que falta, no Brasil, uma cultura empresarial mais agressiva para inovar em diversos setores -- incluindo na produção de energia alternativa. "Nós ampliamos a formação de mestres e doutores, mas a relação da pesquisa com a indústria ainda é pequena", conclui (Folha).

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